domingo, 22 de abril de 2018

17b Eu - Posfácio



Posfácio

 Beto despertou no meio da noite, hoje ele fez 10 anos. Os pacotes de presente ainda espalhados pelo chão, os refrigerantes meio vazios em cima da mesa e os cordões com bexigas semi murxas enfeitavam o cenário da comemoração.
 Esfregando os olhos meio sonolentos ele se deparou com uma figura brilhante sentada ao lado dele, uma garota da mesma idade, cabelos pretos, traços orientais... Ela colocou a mão sobre a dele. Ambos não disseram nada apenas sorriram e o garoto voltou a adormecer.

 Algo familiar?

 Esse é um conto chamado Anjo escrito ainda em 2013 por mim.
 Muca era Beto, Bia era Rebeca e eu... Eu continuei sendo eu. Não o mesmo confesso, porque de lá pra cá bastante coisa mudou e revirando o blog vocês podem perceber isso lendo os posts mais antigos e duas histórias em particular: Acaso e Dinossauro.
 Ambas tem um cunho extremamente pessoal e que foram versões beta do que seria 17b.

 A partir daqui para organizar melhor meu raciocínio eu fiz esse texto seguindo o esquema da jornada do herói.
  
 O chamado a aventura

 Todos nós autores sempre que temos uma ideia visualizamos aquele filminho na nossa cabeça com a introdução ou a cena clímax da nossa história e nisso sobe aquele arrepio pelo corpo e bate aquela empolgação que faz a gente pensar “porra essa história ia ser foda!”, porém isso acontece nos momentos menos oportunos... No banho, no transito, pouco antes de dormir, ou seja, sempre quando a gente não tem um papel pra anotar. E daí você acorda no dia seguinte sem lembrar daquela ideia foda que teve antes de dormir.
 Devido a isso por muito tempo eu passei a anotar em cadernos, seja com rascunhos ou em forma de texto todas as ideias que tinha, fossem citações, contos, tiras, roteiros pra quadrinhos e nisso fui vendo como algumas ideias que na hora parecem uau! dali um tempo viram méh... E assim fui criando um crivo do valia a pena investir meu tempo, afinal quadrinhos exigem tempo (e muito) para serem produzidos. E sobrevivendo ao tempo a possibilidade do conto Anjo virar um quadrinho continuou flertando comigo, assim como outras histórias que virão no futuro.

 Recusa do chamado

 17b segue quase que fielmente a estrutura narrativa do conto original, porém uma coisa que sempre me afastou da adaptação para hq dessa ideia é que contar uma coisa em literatura é menos trabalhosa do que contar em quadrinhos (o conto tem 4 páginas, o quadrinho 95), não tirando o mérito de ambas as mídias que tem qualidades e limitações muito próprias, mas o ponto é que um narrador em primeira pessoa em literatura funciona melhor do que em um quadrinho ou cinema. Porque no quadrinho temos o recurso visual. Podemos mostrar ao invés de contar.
 E o conto Anjo é todo narrado por mim como narrador onisciente, alguém que vê tudo de fora. Os personagens tem pouquíssimas falas, muito diferente da hq onde não há narrador em momento algum, 17b é contada toda na voz dos personagens. E essa era minha grande dificuldade, criar diálogos. Me faltava tanto experiência literária, quanto vivência. Literalmente eu queria contar uma história, mas de certa forma eu não tinha uma história para contar, afinal eu não tinha experiência de vida, conhecia pessoas, suas manias, intimidades e particularidades que foram exploradas em 17b. Não queria colocar um monte de eus falando pela a boca dos personagens, como acontece em acaso, e até mesmo dinossauro, que é quase um monólogo, afinal a relação do personagem é só como ele 90% do tempo, assim como eu era. Por isso essa foi adiada por tanto tempo e experimentei outras mais curtas nesse meio tempo.

 Aceitação do chamado

 Depois de ter terminado dinossauro que foi uma hq 30 e poucas páginas eu me senti mais confiante para partir para um desafio maior, pois o desenho já estava melhor, os diálogos interessantes e conseguia manter o interesse do leitor por várias páginas.

 Testes inimigos e aliados

 Todo ano abrem edital para o proac quadrinhos e uma ou duas vezes eu mandei projetos (sem sucesso) e comecei 17b pensando no edital porém perdi o prazo. E logo em seguida apareceu uma oportunidade de avaliação de hq´s pra sair pelo selo quanta (convém dizer que eu estudei lá por um ano) e eles iam avaliar projetos. Por isso eu escrevi o roteiro da história, fiz o conceito dos personagens, mas na última hora, não mandei. Talvez por não me sentir seguro o suficiente para tal. Se foi bom, ou ruim eu não sei dizer. Mas posso afirmar que o nível da história era inferior ao que é agora, tanto pelo limite (30 páginas) quanto pela minha experiência.

 Aproximação da caverna

 Talvez fosse por uma necessidade pessoal ou por sei lá o que, ah sim, foi depois que eu tinha concluído o curso de quadrinhos na Quanta (um tanto frustrado confesso) que em abril/maio de 2017 eu abri a pasta com o projeto 17b (apartamento 31 na época, nome que eu mudei por conta de outra hq br chamada apartamento 23) e comecei a desenhar um garoto passando por um ritual sinistro, que anos mais tarde foi morar com a prima e adora jogar magic.

Retorno com o elixir / A falsa vitória

 Tudo muito bom, tudo muito bem, essa vai ser a minha grande saga, afinal todos os passos já estavam ali escritos no mapa, era só seguir o roteiro, ficha de personagens e etc. Só que não.
 No roteiro original tem a seguinte frase seguida de um espaço em branco pra depois continuar.

Incluir cenas que demonstrem o afastamento dos personagens.

 Legal né?
 Quem foi o desgraçado que escreveu isso e deixou lá pra mim resolver quando já tinha um monte de páginas desenhadas e publicadas?
 Eu mesmo, que falhei bonito no planejamento.

 Porém nesse ponto que eu vi como ter vivência fez toda a diferença, pois se eu fosse mais novo eu faria essa convivência Muca/Bia ser bem mais genérica, pois nesse ponto a história deu uma desacelerada, mostrando um pouco mais dos personagens do que os fatos em si.  Digo isso porque eu não tinha experiencia com o sexo oposto até meus 20 e tantos anos. E quando começei 17b já tinha estado em uma empresa por 5 anos convivendo com os mais variados tipos de pessoas. Frequentado uma oficina de literatura por um bom tempo também. Tudo agregou experiências e histórias para compor 17b.

 A falsa derrota / A verdadeira vitória

 Depois de conseguir contornar esse buraco no roteiro um outro problema surgiu, o final.
 Essa hq tem múltiplos finais além do que foi publicado e em todos o personagem tinha que passar por uma experiência de quase morte, porém o Muca que começou a jornada não era o mesmo que estava chegando no final. Apesar de meio marrento e teimoso, ele sempre teve aquela insegurança na hora de tomar algumas ações. E o final do roteiro era para um Muca muito mais impulsivo, por isso eu deixei o final o que está publicado e não o que foi planejado.
 E ainda tomei o maior cuidado para não fazer outro final Deus Ex Machina onde a problemática inicial da história é resolvida por um fato, algo ou alguma entidade além do controle dos personagens que aparece sem razão e resolve tudo sem uma explicação lógica. Como o final sonho por exemplo, que serve só para Alice, isso porque foi o primeiro a utilizar esse conceito.
 Mesmo eu tendo viajado na maionese um pouco no clímax onde o gato se revela Deus, ficou nas mãos do personagem decidir o que fazer a seguir, não foi um imposição, ele poderia ter escolhido morrer se quisesse, até porque isso é inevitável, mas como diria a Jota, não é inadiável.

 Retorno ao mundo comum.

 Enquanto escrevo esse texto e finalizo as ultimas páginas antes de subir para o blog, sinto um misto de satisfação e vazio. Afinal realizar um desejo por melhor que seja nos deixa meio tristes depois, algum filosofo explica isso melhor. Mas o que tenho pensando agora além da alegria de conseguir ter concluído um projeto tão grande como esse (afinal foi quase um ano da minha vida nisso) é nas tomadas de decisão, planejamento, lidar com projetos longos sem perder a empolgação, a parte gráfica e como posso aprimorar meu método de trabalho nos próximos projetos. Se vale a pena ainda fazer tudo sozinho ou ter uma consultoria é melhor, se é melhor estudar mais os personagens antes de desenha-los, enfim acho que é isso.

 Espero que tenham gostado.

 Foi muito gratificante para mim ter contado essa história.

 Um grande abraço.

 RG

Galeria

Começando com essas duas artes lindas feitas pelo Johnny Silva do UH HUH HQ





E mais umas minhas pra gente ficar com saudades...







Leia a hq completa:

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